terça-feira, 24 de novembro de 2015

Exames para o câncer de próstata dividem opiniões entre especialistas

Câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil. Especialistas concordam que você precisa conversar com seu médico.

 


Você talvez já saiba que o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil. Só perde para o câncer de pele. E, nesse mês, uma campanha chama atenção pra importância de fazer todo ano os exames que ajudam a detectar a doença. Mas essa recomendação não é consenso entre os médicos. O INCA e o Ministério da Saúde dizem que pra homens saudáveis, os exames podem trazer mais danos do que benefícios.
A campanha Novembro Azul defende a importância dos exames de rotina para todos os homens com mais de 50 anos. E a partir de 45 anos, para homens negros ou que tenham casos da doença na família.
"Por ano, são diagnosticados 69 mil novos casos de câncer de próstata", a campanha afirma.
A próstata é uma glândula exclusiva dos homens, que fica embaixo da bexiga. Produz o sêmen, liberado no ato sexual.
Seu Isaías aprendeu a lição:
“Por enquanto, eu prefiro me prevenir. É melhor do que remediar”, diz Seu Isaías.
O exame de sangue, chamado PSA, e o toque retal, podem indicar alterações na próstata.
“De dez casos diagnosticados com câncer de próstata, em oito deles o PSA levantou a suspeita para fazer o diagnóstico. Mas em dois deles, o PSA é normal e o toque retal é alterado – e aí, graças ao toque retal alterado, foi feito a suspeita e a biópsia, que confirmou o resultado”, conta Fernando Maluf, consultor científico do Instituto Lado a Lado pela Vida.
Só que o uso desses exames de forma generalizada divide opiniões de médicos no Brasil, e lá fora também. O Instituto Nacional de Câncer e o Ministério da Saúde afirmam que, se você é um homem saudável sem sintomas da doença, como dificuldades para urinar, não precisa fazer os exames. Mas se achar necessário, procure antes com um médico para entender os riscos que eles representam.
O epidemiologista Arn Migowski, do INCA, diz que, na grande maioria dos casos, os homens têm tipos não agressivos do câncer. E poderiam conviver com a doença. Só que depois de diagnosticados, eles preferem fazer o tratamento.
“Você diagnostica cânceres que não iriam evoluir clinicamente, que a pessoa nunca sentiria nenhum sintoma, não ameaçaria a vida dela e você fazendo exame de rotina você detecta aquele câncer, que não iria evoluir, e acaba tratando aquele câncer”, afirma Arn Migowski.
E o tratamento tem sérias consequências. Ansiedade, incontinência urinária e impotência sexual, que atinge mais da metade dos homens que tiram a próstata.
A maior pesquisa sobre o assunto, feita na Europa, acompanhou mil homens durante 13 anos. Metade fez exames de rotina. A outra não. Por causa dos exames, 178 passaram por uma biópsia sem necessidade. Quatro deles foram hospitalizados com infecção e outras complicações.
Outros 102 foram diagnosticados com câncer de próstata. Desses, 33 tinham tumores sem maior gravidade e acabaram sofrendo as consequências do tratamento: o grupo que fez exames de rotina registrou cinco mortes. O que deixou de fazer, teve seis.
Com base nesse estudo, Estados Unidos, Canadá e todos os países da Europa, exceto a Lituânia, não recomendam que homens saudáveis participem de campanhas para detectar o câncer de próstata.
O doutor Franz, que já operou centenas de pacientes, explica que infelizmente os exames não conseguem mostrar a diferença entre um câncer agressivo e um problema sem gravidade.
“PSA é uma das poucas ferramentas que nós temos para o câncer de próstata, não deve ser trazido para o rastreamento geral da população, que vai criar muito mais alarde e tratamentos desnecessários. Mas deve sim ser usado em todo o momento com o médico para analisar caso a caso”, defende Franz Campos, chefe do serviço de Urologia do INCA.
A Sociedade Brasileira de Urologia contesta os resultados da pesquisa. E diz que exames de rotina podem, sim, salvar vidas.
“Existe risco? Existe risco. Mas os benefícios são muito maiores. Existem homens que precisam ser tratados do câncer de próstata, porque se não vão morrer da doença. E a única forma de fazer o diagnóstico desse homem é uma avaliação precoce da doença”, afirma Lucas Nogueira, diretor Sociedade Brasileira de Urologia.
A Sociedade Brasileira de Medicina da Família diz que os pacientes precisam de mais informação.
“Muitas vezes se oculta a parte do risco, e só se divulga a parte do benefício. As pessoas têm que entender que a maioria das decisões médicas tem riscos e benefícios e nós profissionais da saúde temos que, cada vez mais, ajudar as pessoas a tomar as suas próprias decisões”, diz Gustavo Gusso, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade.
Os especialistas concordam em dois pontos: você precisa conversar com seu médico antes de tomar qualquer decisão, e a melhor prevenção contra o câncer de próstata é ter uma alimentação saudável, praticar exercícios físicos e não fumar. 
 
FONTE:
 http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2015/11/exames-para-o-cancer-de-prostata-dividem-opinioes-entre-especialistas.html

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