Pedro Ladeira -
5.abr.16/Folhapress
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Romero Jucá (PMDB-RR), senador licenciado e ministro do Planejamento, em fala no Senado Federal RUBENS VALENTE |
DE BRASÍLIA
Em conversas ocorridas em março passado, o ministro
do Planejamento, senador licenciado Romero Jucá (PMDB-RR), sugeriu ao
ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado que uma "mudança" no
governo federal resultaria em um pacto para "estancar a sangria"
representada pela Operação Lava Jato, que investiga ambos.
Gravados de forma oculta, os diálogos entre Machado
e Jucá ocorreram semanas antes da votação na Câmara que desencadeou o
impeachment da presidente Dilma Rousseff. As conversas somam 1h15min e estão em
poder da PGR (Procuradoria-Geral da República).
O advogado do ministro do Planejamento, Antonio
Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou que seu cliente "jamais
pensaria em fazer qualquer interferência" na Lava Jato e que as conversas não contêm ilegalidades.
Machado passou a procurar líderes do PMDB porque
temia que as apurações contra ele fossem enviadas de Brasília, onde tramitam no
STF (Supremo Tribunal Federal), para a vara do juiz Sergio Moro, em Curitiba
(PR).
Em um dos trechos, Machado disse a Jucá: "O
Janot está a fim de pegar vocês. E acha que eu sou o caminho. [...] Ele acha
que eu sou o caixa de vocês".
Na visão de Machado, o envio do seu caso para
Curitiba seria uma estratégia para que ele fizesse uma delação e incriminasse
líderes do PMDB.
Machado fez uma ameaça velada e pediu que fosse
montada uma "estrutura" para protegê-lo: "Aí fodeu. Aí fodeu
para todo mundo. Como montar uma estrutura para evitar que eu 'desça'? Se eu
'descer'...".
Mais adiante, ele voltou a dizer: "Então eu
estou preocupado com o quê? Comigo e com vocês. A gente tem que encontrar uma
saída".
Machado disse que novas delações na Lava Jato não
deixariam "pedra sobre pedra". Jucá concordou que o caso de Machado
"não pode ficar na mão desse [Moro]".
O atual ministro afirmou que seria necessária uma
resposta política para evitar que o caso caísse nas mãos de Moro. "Se é
político, como é a política? Tem que resolver essa porra. Tem que mudar o
governo para estancar essa sangria", diz Jucá, um dos articuladores do
impeachment de Dilma. Machado respondeu que era necessária "uma coisa
política e rápida".
"Eu acho que a gente precisa articular uma ação
política", concordou Jucá, que orientou Machado a se reunir com o
presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) e com o ex-presidente José
Sarney (PMDB-AP).
Machado quis saber se não poderia ser feita reunião conjunta. "Não pode", disse Jucá, acrescentando que a ideia poderia ser mal interpretada.
Machado quis saber se não poderia ser feita reunião conjunta. "Não pode", disse Jucá, acrescentando que a ideia poderia ser mal interpretada.
Renata Mello/Transpetro
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Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, durante cerimônia de viagem inaugural de navio
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O atual ministro concordou que o envio do processo
para o juiz Moro não seria uma boa opção. "Não é um desastre porque não
tem nada a ver. Mas é um desgaste, porque você, pô, vai ficar exposto de uma
forma sem necessidade."
E chamou Moro de "uma 'Torre de
Londres'", em referência ao castelo da Inglaterra em que ocorreram
torturas e execuções entre os séculos 15 e 16. Segundo ele, os suspeitos eram
enviados para lá "para o cara confessar".
Jucá acrescentou que um eventual governo Michel
Temer deveria construir um pacto nacional "com o Supremo, com tudo".
Machado disse: "aí parava tudo". "É. Delimitava onde está,
pronto", respondeu Jucá, a respeito das investigações.
O senador relatou ainda que havia mantido conversas
com "ministros do Supremo", os quais não nominou. Na versão de Jucá
ao aliado, eles teriam relacionado a saída de Dilma ao fim das pressões da
imprensa e de outros setores pela continuidade das investigações da Lava Jato.
Jucá afirmou que tem "poucos caras ali [no STF]"
ao quais não tem acesso e um deles seria o ministro Teori Zavascki, relator da
Lava Jato no tribunal, a quem classificou de "um cara fechado".
Machado presidiu a Transpetro, subsidiária da
Petrobras, por mais de dez anos (2003-2014), e foi indicado "pelo PMDB
nacional", como admitiu em depoimento à Polícia Federal. No STF, é alvo de
inquérito ao lado de Renan Calheiros.
Dois delatores relacionaram Machado a um esquema de
pagamentos que teria Renan "remotamente, como destinatário" dos
valores, segundo a PF. Um dos colaboradores, Paulo Roberto Costa disse que
recebeu R$ 500 mil das mãos de Machado.
Jucá é alvo de um inquérito no STF derivado da Lava
Jato por suposto recebimento de propina. O dono da UTC, Ricardo Pessoa, afirmou
em delação que o peemedebista o procurou para ajudar na campanha de seu filho,
candidato a vice-governador de Roraima, e que por isso doou R$ 1,5 milhão.
O valor foi considerado contrapartida à obtenção da
obra de Angra 3. Jucá diz que os repasses foram legais.
FONTE: http://www1.folha.uol.com.br
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