Pedro Ladeira/Folhapress
DE BRASÍLIA
Apenas 12 dias após sua posse, o presidente interino, Michel
Temer, perdeu seu ministro do Planejamento. Romero Jucá não resistiu e foi
obrigado a deixar o governo depois de a Folha divulgar gravações em que
ele sugere um pacto para deter a Operação Lava Jato.
A queda de Romero Jucá nesta segunda (23) atinge um dos
principais articuladores da aprovação do afastamento de Dilma Rousseff no
Congresso e fragiliza o governo Temer logo na sua largada.
O interino apostava na capacidade de articulação de Jucá no
Legislativo e no meio empresarial para dar respostas rápidas na economia.
Jucá afirmou que irá tirar uma "licença" até que a
Procuradoria-Geral da República responda a uma representação de seu advogado
questionando se as gravações contêm alguma ilegalidade ou crime. Na verdade,
ele será "exonerado a pedido" nesta terça para poder reassumir seu
mandato no Senado pelo PMDB de Roraima.
Interinamente, será substituído pelo secretário-executivo,
Dyogo Oliveira, que no governo Dilma ocupava o mesmo posto na equipe de Nelson
Barbosa (Fazenda).
Oliveira é investigado na Operação Zelotes, que apura
supostos esquemas de venda de medidas provisórias e fraude fiscal. Ele nega
envolvimento em irregularidades.
Apesar de Jucá ter anunciado que espera voltar ao cargo, a
equipe de Temer avalia que isto não deve ocorrer e já começou a avaliar
substitutos. Isto, porém, não será feito nos próximos dias porque o presidente
não quer impor mais desgaste a seu auxiliar, de quem se sente
"devedor".
Temer já sabia desde domingo (22), alertado pelo próprio
Jucá, da gravação onde o senador, em conversa com o ex-presidente da Transpetro
Sérgio Machado, diz que "tem que mudar o governo para poder estancar essa
sangria".
Machado, que fez as gravações, também registrou diálogos com
o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o ex-presidente da
República José Sarney.
Na manhã desta segunda (23), Temer confidenciou a
interlocutores que Jucá não tinha condições de ficar porque passaria a ser alvo
constante da imprensa, gerando risco de imobilizar o governo.
O presidente interino esperava, contudo, que partisse do
ministro a decisão de pedir um afastamento temporário da equipe, o que seria
uma saída honrosa para o auxiliar.
Em reunião no Palácio do Jaburu pela manhã, Jucá prometeu dar
entrevista explicando o contexto da gravação.
À Folha Temer já adiantava o futuro do ministro ao
dizer que reafirmava seu "compromisso com a Lava Jato" e que,
"se houver embaraços pela frente, eles serão retirados". Naquele
momento, o presidente apostava na saída negociada e acreditava que Jucá
entregaria o cargo.
O então ministro do Planejamento, contudo, deu uma entrevista
no final da manhã na qual criticava a Folha, afirmava não ter feito nada
para travar a Lava Jato e dizia que falava de economia ao comentar que era
preciso tirar a petista Dilma Rousseff para "estancar essa sangria".
Temer ficou preocupado com a disposição de ele seguir no
cargo. Um assessor comentou que Jucá deu sinais de que não se demitiria e
transferia para Temer a decisão.
Assessores de Temer avaliaram que, depois de a reportagem
publicar o áudio da gravação entre Machado e Jucá no início da tarde, mostrando
que o ministro não falava de economia ao dizer que era preciso "estancar
essa sangria", o caso demandava uma solução rápida.
Ali, ficou acertado que Temer não podia ir ao Congresso sem
que houvesse uma definição sobre a situação de Jucá. Por volta das 17h, o
presidente interino entregaria a Renan a nova meta fiscal, com previsão de
rombo de R$ 170,5 bilhões em 2016.
Antes de seguir para o Legislativo, Jucá e aliados de Temer
acertaram que o até então ministro do Planejamento pediria licença do cargo.
Depois de anunciar a saída, Jucá foi para o Jaburu fechar com
Temer e Henrique Meirelles (Fazenda) as medidas econômicas que serão divulgadas
nesta terça (24).
OUTRO LADO
Ao anunciar a sua licença do Ministério do Planejamento, o
senador Romero Jucá (PMDB-RR) disse que está "consciente" da sua
inocência, defendeu a Lava Jato e alega que houve manipulação na divulgação da
conversa com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado pela Folha.
Em uma entrevista conturbada à imprensa no Congresso, Jucá
afirmou que seu advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay,
protocolaria uma ação junto ao Ministério Público para que o órgão indicasse se
houve ou não irregularidade na conversa.
Segundo Jucá, seu gesto mostra que o governo de Michel Temer
é transparente. "Aguardo manifestação do Ministério Público porque sei que
não fiz nada de errado. Nada melhor do que uma manifestação de um órgão
isento."
Mais cedo, o principal ponto de defesa de Jucá foi dizer que
quando disse "estancar a sangria" se referia à situação econômica,
não à Lava Jato. O então ministro insistia que os trechos publicados pela Folha
foram tirados de contexto.
"Estou dizendo que as frases que estão ali, eu tenho
repetido abertamente. Disse o mesmo no Roda Viva, na 'Veja' e também na 'Isto
É'", diz.
A Folha publicou os áudios de dois trechos da conversa
onde fica claro que o termo "estancar a sangria" se referia à Lava
Jato e que não há menção, nessa parte, à situação econômica brasileira.
FONTE: http://www1.folha.uol.com.br
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